Considerações e opinações sobre a sétima arte.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

SEM NOME: A TRAVESSIA PARA O OUTRO MUNDO

Procurar um mundo melhor é sempre uma demanda incansável. Para aqueles que vivem em condições precárias, sem muito que possam dizer ser seu, é o único sonho que surge no seu pensamento. Sem Nome (Sin Nombre) retrata essa aventura desventurada dos imigrantes ilegais que procuram ultrapassar as fronteiras mexicanas e entrar num novo mundo, os Estados Unidos da América. Um mundo de oportunidades. Um mundo de sonhos. Cary Fukunaga, o realizador, teve o cuidado de tentar absorver para dentro desta película, não só a ânsia destas pessoas, como todo o sacrifício que lhe é exigido para poderem sonhar com um futuro melhor.
Em sem Nome surge também retrata, em paralelo com a travessia para o outro mundo dos imigrantes, a realidade vivida no mundo da criminalidade e dos gangs organizados mexicanos. Ao longo do filme, acompanhamos Casper, interpretado por Edgar Flores, na sua vida de crime. Casper acaba por arrastarSmiley para essa vida, encarnado por Kristian Ferrer, uma ainda jovem criança que se torna adulto cedo demais. Casper vai acabar por compreender que a irmandade, que é fomentada pelo seu gang, não passa de uma ilusão. O agir desumano da sua chefia é a prova que acaba por chocar Casper e fazer-lo cruzar o seu destino com Sayra, interpretada por Paulina Gaitan, uma jovem que procura passar a fronteira mexicana.
Neste drama mexicano, somos levados para o íntimo da decadência humana, a criminalidade, onde a sobrevivência rege-se pela lei do mais forte. Mas é nessa precariedade de afectos humanos que acaba por surgir, de forma tão natural, a compaixão e o próprio amor, sentimentos que tão bem definem o ser humano. Sem Nome traz essa mensagem. Alerta-nos para o facto que até nos piores cenários, onde o homem se confunde com a besta e rouba, tortura, saqueia, aniquila e mata, existe ainda uma réstia de bondade. Afinal de contas somos todos feitos do mesmo molde.
Este filme independente vem reafirmar o cinema mexicano (apesar da realização ser norte-americana). A sua qualidade é manifesta e inegável. A construção do fluxo narrativo é o seu ponto forte. Apesar do argumento simples, sem um grande climax e surpreendentes reviravoltas, ou mesmo, pensamentos profundos que nos levem para locais rebuscados da nossa mente, esta película constrói cada cena de forma natural e contínua, causando uma óptima “cadência” visual.
Sem Nome é um filme que conta uma história. É uma história cinematográfica. Uma história sobre pessoas. Sobre a sua natureza e sobre os seus sonhos. Sobre as atitudes que os regem perante os seus sonhos. Uma história que deve ser vista com olhos de ver,  tentando compreender a natureza humana. Um filme para amantes da (com)paixão humana, esteja ela onde estiver.




2 comentários:

  1. "Eu Sou O Amor" e o "Sem Nome" foram as minhas duas curiosidades do mês. Saí desiludido do "Eu Sou O Amor" mas acho que não vou sair desiludido deste!

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  2. Não é um filme espectacular que te vá marcar para sempre, mas a sua simplicidade, tanto na forma narrativa, como na realização, faz com que sintas o que é exposto. É uma bela obra de cinema. :)

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