A efemeridade do tempo sempre foi o grande dilema de nós, Homens. O tempo, como coisa incontrolável, sempre nos inquietou. O cinema, como expressão do sentimento do Homem, foi e é usualmente alvo dessa inquietação. Basta lembrar filmes como Regresso ao Futuro, de Robert Zemickis, Os Doze Macacos, de Terry Gilliam, O Efeito Borboleta, ou mais recentemente, O Curioso Caso de Benjamin Button, de David Fincher. Como lidar com a fugacidade da vida? Como controlar o tempo, fazê-lo recuar ou avançar? Ao longo dos tempos, o nosso imaginário foi sendo preenchido com respostas, ou aparentes soluções, para estas questões, tais como as máquinas do tempo. Aliás, foi a cultura popular dos últimos séculos, com a ‘criação’ das viagens no tempo, que fomentou ainda mais a vontade humana de controlar o tempo. O cinema e a literatura foram os instrumentos dessa mesma cultura.
A Mulher do Viajante do Tempo (The Time Traveler’s Wife), de Robert Schwentke, uma adaptação cinematográfica do romance de Audrey Niffenegger, trata disso mesmo, de reescrever mais uma tentativa de controlo temporal do nosso imaginário, as viagens no tempo. É-nos narrada a história de Henry DeTemble, interpretado por Eric Bana, um homem que desde os 6 anos viaja no tempo, e de como esse seu dom influenciou toda a sua vida. Henry conhece a sua amada Claire Abshire, interpretada por Rachel McAdams, exactamente por causa do seu dom. Todos os seus passos foram já desvendados. As idas ao passado, as idas ao futuro começaram a moldar, naturalmente, o seu mundo, tornando-o completamente descoberto. Henry começa a desenhar a sua vida, não só passada, mas principalmente futura. Henry vê a sua vida ficar pré-destinada, sem livre arbítrio, sabendo sempre o chão que vai pisar.
A Mulher do Viajante do Tempo não é filme inovador. Todos nós já estamos mais que familiarizados com este eterno dilema e a forma como ele pode moldar a vida do Homem. Porém, esta película vem reforçar um ponto de vista algumas vezes ignorado. A verdade é que mesmo viajando no tempo, Henry não consegue mudar o rumo principal da sua história, antes pelo contrário, cada vez mais ela se torna inevitável. E a sua história torna-se somente aquela, por causa do seu dom. Um ciclo temporal determinado. A ideia máxima desta narrativa vem-nos dizer isso mesmo, que tentarmos controlar o tempo, só nos faz desaparecer da vida e determiná-la cada vez mais.
Robert Schwentke fez uma boa adaptação. Não devemos adjectivá-la para além disso, contudo é de facto um trabalho bem feito, no que toca à realização. Trabalha com um tema que, para além de ser bastante recorrente, pode facilmente conduzir o filme para o cliché ou mesmo para o ridículo. Schwentke teve a preocupação de tentar não pisar nenhum desses campos, mas manter uma certa comercialidade cinematográfica. Entre um misto de fastfood fílmica e de obra de arte inquietante, Schwentkeconstruiu algo positivo.
A Mulher do Viajante do Tempo é mais um filme que se junta ao leque de criações culturais que abordam o dilema do tempo, mas que, não assumindo nenhum tipo de vanguardismo, diferencia-se do que até então tem sido feito. Um filme construído para agradar todos, ou quase todos, inserindo algumas questões para fazer pensar.
(Crítica também publicada em http://www.espalha-factos.com/2010/06/a-mulher-do-viajante-do-tempo-o-eterno-dilema/)
Olá Chico, antes de mais obrigada por seres seguidor do meu blog! tb já sou do teu :)
ResponderExcluirQuanto ao post gostei imenso de ler, mas ainda não vi o filme.Quero vê-lo por ser um tipo de história de que gosto bastante, nomeadamente por abordar o tema "tempo" e "mudança".
Continua com as críticas, são sempre uma ajuda para todos os cinéfilos e curiosos de cinema!