Considerações e opinações sobre a sétima arte.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Avatar: Inovador, o quanto baste

Acabo de assistir à nova película de James Cameron, "Avatar". À partida, iria preparado para mais uma lufada de efeitos especiais e técnicas 3d inovadoras, como tinha prometido o realizador James Cameron, mas o que tive oportunidade de experienciar voou para além do que poderia prever. A reunião de fabulosos técnicos de efeitos especiais (entre os quais a Gentle Giant Studios e a Industrial Light & Magic) resultou num nível técnico sublime, não só no que toca à imagem como também no que diz respeito ao som. Cameron soube aproveitar essa técnica em prole da estrutura narrativa e do próprio cenário da acção, um mundo cheio de novas espécies animais, de plantas e uma peculiar tribo de nativos humanóides. Baseando-se nos clássicos da ficção científica, Cameron construiu um poderoso universo visual, sem que contudo tenha deixado de ser original. O planeta de pandora, de características semelhantes às da Terra, fazendo-nos lembrar a lua de Endor do clássico Star Wars: The Return of the Jedi, é explorado ao nível da flora e da fauna de tal forma que o espectador envolve-se, com extrema facilidade, neste novo mundo e se deslumbra a cada instante. As semelhanças com o planeta Terra não impedem, por sua vez, de realçar a originalidade da criação de pandora, que, sem margens para dúvidas, é a jóia do filme.
Tudo o resto fica em suspenso. Um enredo fraco, cheio de buracos e clichês, num estilo de Pocahontas futurista, onde as personagens são pouco profundas e os laços que as unem pouco desenvolvidos. Primeiramente, são-nos apresentadas duas realidades, uma que remete para a ocupação do planeta pandora, pela espécie humana, e outra que se refere à resistência da tribo humanóide na'vi. A personagem central, um ex-fuzileiro dos EUA, surge como elo de ligação entre estas duas realidades. Este vai se introduzir na comunidade nativa e se comportar como um estrangeiro que, aos poucos, se vai integrando no grupo. Mas o que poderia ser uma situação de um grande potencial artístico, torna-se num clichê amoroso entre o ex-fuzileiro e uma das nativas. Onde poderíamos encontrar personagens peculiarmente interessantes, relacionadas com a questão do (re)conhecimento de uma nova cultura, encontramos uma série de sequências centralizadas numa única relação, que por sua vez deixa muito a desejar. Na segunda realidade, encontramos um grupo industrial que, com o auxílio de militares mercenários, explora os recursos do planeta. Aqui, são-nos apresentadas personagens simplistas que nos tentam transmitir uma imagem de crueldade e indiferença, com o intuito de as ligar à imagem da Humanidade pós-industrial e capitalista. Tal acaba por falhar pela falta de desenvolvimento das personagens e pelo uso de graves clichês. Com alguma facilidade, conseguiríamos aceitar a estrutura base desta narrativa, que se baseia no confronto entre uma espécie conquistadora, desconhecida, e entre uma outra residente que não ambiciona nada para além da paz. Contudo, este enredo não acrescenta nada ao mundo cinematográfico, ficando-se por uma história padrão, com personagens simplistas e com pouco conteúdo.
Posso concluir que o filme ganha imenso potencial pela óptima utilização dos efeitos especiais, mas, talvez por uma certa preguiça, cai no mesmo erro de muitos dos blockbusters do seu nível, a banalidade. Contudo, é, sem dúvida alguma, um épico que honra o género e que traz para o cinema uma forma de criação inovadora e muito respeitável, mas que deixa algo a desejar.


Francisco Noras


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