Considerações e opinações sobre a sétima arte.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O "Carpe diem" em Up in the air













Estreou hoje, dia 21 de Janeiro de 2010, o filme Up in the air produzido pela Paramount Studios e realizado por Jason Reitman. Depois de ter ganho sucesso com o filme Juno em 2007, valendo-lhe uma nomeação para melhor argumento, Reitman apresenta-nos uma produção mais abastada a nível financeiro, mas que não se desvia do género cinematográfico usual na sua ainda jovem carreira: a comédia dramática. Up in the air, nomeado para 6 globos de ouro americanos  e vencedor de um outro para melhor argumento, no presente ano, constrói a sua narrativa à volta da personagem Ryan Bingham (interpretado por George Clooney) e da sua forma peculiar de ganhar a vida. Bingham trabalha numa agência que se especializa em despedir funcionários de outras empresas de forma a reformular as necessidades dessas mesmas. Para isso, Bingham viaja de avião por todos os estados dos E.U.A., de empresa em empresa, despendido pessoas a torto e a direito. Contudo, a peculiaridade da personagem interpetada por Clooney, não é o seu estranho emprego, mas sim a sua afinidade pelas suas viagens de trabalho. Este seu  à vontade com as viagens aéreas faz com que ele só se sinta em casa quando está a voar, desvinculando-se da vida “normal” e das relações sociais que poderia ter na sua cidade natal. Aliás, é o próprio que desenvolve uma filosofia de vida baseada nesse imaterialismo físico e social, tentando encarar a vida sem preocupações ou responsabilidades. De uma forma destanciada e despreocupada.


Em Up in the air deparamo-nos com uma hístória sobre a qualidade individual do ser humano, e da sua funcionalidade na sociedade. Através do distanciamento dos compromissos sociais, evidenciado na personagem de Clooney, o filme estrutura-se com o objectivo de explorar a questão do sentido social do ser humano e da sua necessidade em relacionar-se com outros indivíduos e de se comprometer e criar laços a um nível para além do “casual”. A filosofia do distanciamento de Bingham, que até revela um certo egoísmo por parte de que a pratica, vai ser posta em causa quando este se depara com Alex Goran (interpretada por Vera Farmiga) num encontro  amoroso casual, sem compromissos, que, posteriormente e quase acidentalmente, traz a Bingham a vontade de se ligar à vida de uma forma mais comprometedora. O sentido da vida, a funcionalidade de cada indíviduo no mundo surge como problemática na temática do distanciamento/compromisso com a vida. 

Apesar da forte complexidade e desenvolvimento da personagem de Bingham e da excelente prestação de Clooney, que nos revela um lado mais suave e mais susceptível a questões dramáticas e emocionais que, até então não estávamos habituados, o enredo não é forte o suficiente para conseguir transmitir com peculiar firmeza a mensagem implícita no argumento. O suporte onde se sustenta o filme Up in the air, apesar da sua estranha originalidade, não deixa de ser, paradoxalmente, pouco substâncial, opaco e exacerbadamente suave, tendo em conta o projecto ambicioso de algumas linhas do argumento. A questão da vivência humana sem relações muito comprometedoras, seguindo o tão citado “carpe diem”, tenta surgir como temática de todo o filme, sendo mesmo o seu final a tirada de conclusões de toda a experiência da filosofia de vida de Bingham. Contudo, a ligeireza de como a situação de Bingham nos é apresentada, num género de filme famíliar ou de comédia romântica suave, tira-lhe toda a seriedade e a intensidade que podia ter ao retratar um temática deste tipo de peculariedade emotiva e social. 


Podemos concluir que, seguindo a sua catalogalização de comédia dramática, Up in the air honra o género, apostando na centralidade da personagem principal e na sua riqueza de traços personalizados. Os momentos de comédia variam deste o tradicional humor físico até  algumas referências a um certo humor negro. Todavia, a forma  pouco substancial como se estruturou o enredo e o próprio argumento, faz com que Up in the air tenha certas dificuldades em se constituir como um clássico desta década e em pernoitar na memória colectiva do público.




Francisco Noras 

Nenhum comentário:

Postar um comentário