Considerações e opinações sobre a sétima arte.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Do Baú: Pickpocket de Robert Bresson

          E aqui está, como prometido, mais uma edição da rubrica "Do Baú". Esta semana apresento-vos um clássico do cinema francês dos anos 50, Pickpocket em 1959, realizado por Robert Bresson, emblemático realizador conhecido por obras como “Fugiu Um condenado à Morte” e “Peregrinação Exemplar”. O carteirista, na tradução portuguesa, é referido como uma das grandes obras de Bresson, reflectindo todos os seus traços de autor e indo de encontro à sua máxima: "O cinematógrafo é a arte de não mostrar nada”.
Nesta obra de Bresson, somos apresentados a Michael, um homem aparentemente vulgar mas que, através da sua filosofia de vida, decide iniciar uma carreira como carteirista. A sua aventura começa a solo, mas logo cedo encontra outros da sua área e inicia uma intensa formação. E são esses momentos de treino e formação de um carteirista que Bresson faz questão de captar. Mostra-nos a dedicação de Michel em se tornar melhor no que faz, ao ponto de considerar o medo de ser apanhado como adrenalina. E apesar das suspeitas do comissário da polícia, que o tem em permanente vigia, Michel aperfeiçoa a sua técnica a cada dia que passa, gloriando-se e entusiasmando-se cada vez mais por cada novo sucesso.

        Michel crê que existem homens capazes, dotados de inteligência suficiente, talento e até mesmo genialidade, indispensáveis à sociedade que, em vez de estagnarem, deveriam, em certos casos, ser livres de desobedecer à lei, como se de “supra-sujeitos” se tratassem. Michel crê que é um desses homens. Só isso justifica a falta de remorso que tem perante os seus roubos. Sente-se capaz de tudo. A questão da culpa é secundarizada e esquecida.

        Um pouco inspirado na obra “Crime e Castigo” de Fiodor Dostoievski, Robert Bresson procura, neste filme, abordar de um diferente ponto de vista a questão da culpa e da redenção, temas que são usuais nas suas obras. Na exploração daquele que pratica o crime, tenta compreender de onde nasce ou não a culpa e posterior redenção. E se estas não surgirem, qual será o porquê.

Aqui fica a sugestão: Um filme noir, ao estilo francês, de muito fácil digestão, que poderá fazer pensar.

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