Homens Que Matam Cabras só com o Olhar (The Men who Stare At Goats) é um filme com um certo nível de complexidade. Com um elenco de classe, um argumento complexo e um objectivo de topo: Honrar a obra de Jon Ronson. À partida, a missão, tanto de Grant Heslov, o realizador, como de Peter Staughan, o argumentista, seria minimamente árdua. Readaptar com qualidade o best-seller de Jon Ronsoné, compreensível para quem leu o livro, uma tarefa complicada. Digamos que Heslov não se saiu mal. Porém, escapou-lhe algo nesta missão. Algo que falta no filme que o impossibilita de honrar com dignidade a obra literária. Falta-lhe a verdadeira essência da obra. Mas vamos por partes.
Em Homens que matam Cabras só com o Olhar, acompanhamos a personagem Bob Wilton, interpretada por Ewan McGregor, e o seu trabalho jornalístico acerca de uma estranha divisão do exército americano, intitulada de First Earth Battalion. Esta divisão experimental baseava o seu trabalho na investigação dos poderes paranormais do Homem. Isso mesmo, uma divisão do exército que treinava os seus homens para serem videntes. Regida pelos pensamentos e ensinamentos do movimento New Age, que se centra no potencial humano e nas forças universais que existem dentro do Homem, esta divisão tinha como função treinar Jedis, videntes especializados, para combaterem, ou melhor, para preverem situações de guerra e, deste modo, contrariar o fluxo da guerra em prol da paz universal. Durante a sua investigação,Wilton vai dar de caras com Lyn Cassady, interpretado por George Clooney que, diga-se de passagem, consegue transmitir à sua actuação um realismo muito afincado. Cassady irá narrar-lhe a origem desta divisão e de que forma o exército a utilizou. Isto tudo, enquanto viajam pelo Iraque, em pleno ambiente de guerra.
Posto isto, devemos compreender uma coisa. O livro de Jon Ronson foi baseado numa investigação verídica. Mas, parecendo que não, este facto realça o tom hilariante do argumento. À primeira vista, toda esta intriga surge, aos nossos olhos, como uma sátira ao exército americano e às suas tentativas experimentais de dominar as tecnologias de guerra. Contudo, a verdadeira existência de uma tal investigação paranormal, por parte do exército, não desmorona o objectivo grandioso desta obra. A forma como esta encara sarcasticamente a ideia de uma divisão do exército cheia de videntes vai de encontro ao objectivo: Fragilizar a imagem do exército americano.
A sua adaptação cinematográfica não lhe fica atrás, muito graças ás fantásticas interpretações deMcGregor, Clooney e Jeff Bridges, cheias de realismo e originalidade. A autenticidade com que as personagens acreditam naquela realidade torna-se, só por si, uma verdadeira comédia satirizada. Mas, ao contrário da obra literária, o filme Homens Que Matam Cabras só com o Olhar peca por falta de dinâmica e fluidez na orgânica da narração. Por outras palavras, apesar da estrutura da narração não ter erros ou lapsos, não consegue hierarquizar as cenas pelo nível de importância estrutural, tornando-se um tanto linear, no que toca à intensidade. Desta forma, o sarcásmo, que poderia ser evidenciado, não é seguro, sendo, em algumas cenas, pouco visível.
Homens Que Matam Cabras só com o Olhar tem um ponto altíssimo no que toca à qualidade. O seu elenco, além de ser de luxo, funciona de forma bastante orgânica e realista. Aliás, o grande trunfo deste filme, que deveria ser o argumento, é o elenco, que consegue salvar uma razoável realização, que não passa disso mesmo, e uma readaptação com pouca criatividade cinematográfica. Apesar de tudo, trata-se de um filme bastante recomendável que, àqueles que não leram o livro, fará crescer a curiosidade de o fazer.
( Esta crítica está também publicada em http://www.espalha-factos.com/2010/02/critica-homens-que-matam-cabras-so-com-o-olhar/ )
Muito bem ;)
ResponderExcluirGostei da comparação com o livro, no fundo é sempre um pouco assim